Os tempos de crise propiciam a busca de novas e adequadas soluções ao desenvolvimento dos países e das regiões, desde que haja pessoas suficientes e preparadas para a mudança. Todavia nem sempre é assim.
No caso português e até açoriano, o drama do desemprego está a levar jovens e não jovens a procurar trabalho noutros países, como já antes acontecera, nos anos 60, com a emigração massiva para a América do Norte. Desde então, o declínio populacional tem-se vindo a agravar, sobretudo nas ilhas com menos população.
Um dos casos mais emblemáticos acontece na Ilha do Pico, a segunda com maior superfície do arquipélago.
Em 1861, ano de crise económica 1.), a população picoense rondava as 35 mil pessoas. Passados 130 anos só lá residiam 15.202 pessoas e duas décadas mais tarde menos mil. 2.)
A curva descendente é tão pronunciada em várias ilhas que importa repensar, com urgência o processo de desenvolvimento do arquipélago.
Sobretudo porque, aqui como noutras partes do território nacional, “o que tem dificultado o desenvolvimento é a falta de gente”. 3.)
É certo que, desde a integração europeia, e por causa dela, houve investimentos em infraestruturas viárias, portuárias e aeroportuárias, na construção de novas escolas, indústrias e equipamentos coletivos, na melhoria dos serviços de saúde e da educação. Aumentou, significativamente, a qualidade de vida das populações. No entanto o desenvolvimento não teve uma sustentação que pudesse resistir às dificuldades por que passa agora a nossa economia.
Uma das causas prende-se com a própria integração europeia.
Segundo o geógrafo Prof. Jorge Gaspar, “sempre que se dá um alargamento de escala num determinado contexto político, económico social e cultural, os mais poderosos tendem a sair vencedores.(…) Dá-se a centrifugação das periferias.” 4.)
A identificação deste fenómeno aplica-se, que nem uma luva, ao arquipélago dos Açores.
Na verdade, nos últimos 30 anos, por razões que se prendem com a oferta de melhores estruturas de ensino, maior oferta de emprego, melhores cuidados médicos e de outros benefícios, a maior cidade do arquipélago atraiu uma parte considerável quer de micaelenses quer de açorianos de outras ilhas, as quais, por via disso, sofreram um grande decréscimo populacional. Este acentua o processo de envelhecimento e dificulta o acesso a um desenvolvimento idêntico aos dos maiores centros urbanos.
Será possível atingir-se esse patamar e viver com o mínimo de qualidade, de satisfação e de segurança nas ilhas “pequenas”, ou a desertificação é inevitável?
Os exemplos de quatro ilhas com reduzida população, geram um sem número de questões e de inquietações.
A ilha das Flores perdeu, em 20 anos, 536 pessoas. Parece pouco, mas, no censo de 2011, só havia ali 3.793 habitantes.
A Graciosa, no mesmo período, diminuiu de 5.189 habitantes, para 4.391: quase menos 800 pessoas.
São Jorge, que em 1991 tinha 10. 219 residentes, perdeu cerca de mil pessoas. O mesmo aconteceu no Pico, que é a segunda maior ilha do arquipélago.
O espetro do declínio demográfico de algumas ilhas é muito negro, sobretudo se, ao natural envelhecimento, juntarmos o desemprego dos jovens e adultos que fragiliza a atividade económica.
Não havendo dinamismo, nem o turismo como atividade industrial ligada aos serviços, pode alavancar o tecido económico insular.
Face à presente crise que é não só de valores, mas de paradigma económico, urge encarar de frente o problema do declínio populacional em várias ilhas e do arquipélago no seu todo.
Refletir, com realismo e sensatez sobre: quantos somos hoje e nos próximos vinte anos, onde e como vivemos, que capacidades e perspetivas de futuro tem cada uma das ilhas e que opções se deve tomar para conseguir um desenvolvimento humano aceitável, são pressupostos em que deve assentar o projeto açoriano.
1.) Ávila, Ermelindo – “Crises económicas”, a publicar em O DEVER
2.) Serviço Regional de Estatística dos Açores -SREA
3.) Gaspar, Prof. Jorge, rev. Adufe, n.º20, 2012
4.) Ibidem, pag 18.
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